Mudar de atitude: o primeiro passo
Eram 6 e meia da manhã quando me levantei. Equipei-me. Fui até à zona do Guincho (Cascais). Estacionei o meu carro e fui fazer uma caminhada (à qual, por alguma razão louca, continuo a chamar de corrida).
Fiz 10 quilómetros, dos quais corri apenas 2. Isto significa que o caminho me levou perto de 1a hora e 20 minutos. E, nesse tempo, o pensamento corria, enquanto eu andava em passo acelerado.
Palmilhando a pista junto ao oceano e contemplando a paisagem magnífica que me rodeava, eu permiti-me fazer uma viagem, não só no espaço, mas também no tempo. Subitamente, era 2010 outra vez e eu tinha 70 quilos.
Sou relativamente baixinha, pelo que este é um peso indesejável para mim. As pessoas diziam-mo, algumas com amor e cuidado, outras com desrespeito e maldade. Tal como muitas pessoas acima do seu peso ideal, eu gostava de dizer que não me importava.
A minha médica disse-me, por essa altura, que seria bom eu perder peso. Lembro-me de que, quando mo disse, não levei muito a sério as suas palavras. Havia uma recusa premente em mim: eu não havia de ser formatada pelo que os outros diziam ou pensavam de mim. O meu corpo era meu.
Fundamentalmente meu. Para eu o cuidar como achava melhor. “E”, acrescentava, “o que importa está dentro”.
Nesta apropriação de ideias, lembro-me também do dia em que olhei para mim ao espelho, para a minha figura redondinha, e me perguntei se teria medo que um corpo mais esguio me negasse a força da arte, do conhecimento ou da inteligência.
Percebi que estava a saltar de conceito em conceito, de forma desajustada. Percebi que estava a negar a mim mesma uma existência mais sadia e mais equilibrada. E mudei. Mudei o que precisava de mudar: mudei de atitude. E com, ela, perdi 20 quilos.
Não foi uma jornada sempre pautada pelo equilíbrio. Talvez tivesse sido mais fácil se o 1001 Dietas já existisse na altura… Em alguns momentos, sinto que entrei em dietas restritivas demais. Em alguns momentos, sei que parei o exercício físico e me deixei perder massa muscular.
Aliás, é aqui que estamos. Em 2015, eu corria 10 a 11 quilómetros regularmente (cerca de 3 a 4 vezes por semana) e, um dia, (nem eu entendo concretamente a razão!) simplesmente parei.
Apesar da paragem, com ligeiras oscilações, fui mantendo o peso, mas, sem o exercício, o meu corpo tornou-se mais flácido, mais mole… sem medo da expressão o assumo: “mais gordo”. As “magras gordas” existem e eu serei, talvez, uma delas.
Eu não acho que uma pessoa só é feliz com o corpo perfeito. Amo o meu corpo porque sei que ele é funcional. Mas sei que lhe devo uma existência saudável. Por isso, depois de 3 anos parada, calcei as sapatilhas e cheguei aqui.
Na passadeira, encontro maioritariamente pessoas de meia-idade, alguns idosos e jovens que, evidentemente, são da geração fit e estão habituados ao percurso.
Imagino que, para os dois primeiros, a vida tenha pregado alguns sustos que levaram à mudança de rotina e que, para os segundos, exista o desejo de não viver esses sustos (ou pelo menos a vontade de ganhar uma medalha numa maratona ou de ter uma boa foto para o instagram).
Não importa o que os levou ali. Sinto-me igual a todos eles. Porque todos nós estamos, pelas 7 da manhã, a caminhar, lado a lado com o oceano. E todos recusámos o conforto dos lençóis em prol de uma vida saudável.
Na troca de olhares repentinos e sorrisos de ocasião, todos sabemos um segredo que não devia ser segredo: independentemente do objetivo – a perda de peso, o ganho de massa muscular ou apenas uma vida mais saudável – o que precisa de mudar é só a atitude.
A dieta ajuda.
O exercício ajuda.
Mas o amor-próprio? Esse faz milagres!
Marina Ferraz
Segredos de um monstro
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